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Vidas vividas por Fausto Modigliani

 

Cuspiu em minha cara, cuspe? Não, foi comida, tal comida que fiquei preparando por um tempo lá embaixo, ela lá encima, incomunicável, fazia três dias que não tomava banho, mal comia, mal tomava água, apenas dizia: Não quero você perto de mim. Eu? Um bosta qualquer que naquele momento era chamado de namorado, pela família um namorado ideal, por ela também, Joana, no qual toda semana tava lá eu cuidando de sua mente, trabalhando com seres medíocres, soberbos que se achavam os sub deuses do direito e uma agradável desembargadora e estudando igual um condenado que em minha mente nós íamos casar e eu em minha maior obrigação: Sustentar os seus desejos consumistas, plásticas etc.

Voltando a cena, cuspiu um filé mignon com batatas em minha cara ao dizer:

- Não me amas? Não vê a situação que estou, a forma que estou aqui, horrível e tu queres que eu esteja bem, queres?

Eu? Silêncio mortal, apenas ouvia um delírio a todo momento, uma gritaria, um pensamento que parecia uma garota de 15 anos que não aceitou o casamento de seu pai, sim caro leitor, muitos sofrem com isso, mas pense, o que tenho haver com a porra do pai de alguém, a vida é sua estrague como quiser. Naquele momento pensei exatamente isso, arrumei tudo, peguei da forma mais rápida, coloquei na mochila e arrivederci, I’m going to America. On the road, fuck my life.

America pra mim, são as ruas, alegria total, pra quê esse medo de viver, viver aquilo que está em nossa frente, beijar, enloquecer, quero andar com pessoas, os loucos, os que estão loucos para viver, loucos para falar, loucos para serem salvos, que querem tudo ao mesmo tempo agora, aqueles que nunca bocejam e jamais falam chavões, mas queimam, queimam, queimam como fabulosos fogos de artifício explodindo como constelações em cujo fervilhante – pop!

Mas não, estou rodeado por gente chata, desinteressante, como medo de tudo, pois foram criados pelo um moralismo, com as devidas vênias, conformados com essa vida, procurando o racional, mas já perceberam que tudo o que temos, o que está ao nosso redor é irracional? Tudo é possível se quisermos, dominados pela vontade, pela interpretação e a partir tudo não fica mais racional, mas há variações e de certo modo ser racional, é ser um conservador, um idiota.

Vivem, não se apegue a imagens que a sociedade joga, conquistas necessárias, se formos atrás desse modo de viver que é imposto, cria-se uma anomia em nossa sociedade, apenas vivem como vocês queiram, nada é imposto: como o relacionamento é necessário, o casamento, construir uma família, como todas essas coisas que são jogadas a todo momento em todos ciclos de nossas vidas, para terminar logo essa porra, vivam caralho, parem de serem estranhos, vivam.

Tudo isso veio quando caminhava da porta da casa dela até o uber em si, veio como um furacão, parada? Dragão do mar, lá onde quero encontrar meu amor, não essa pessoa que suga a todo momento minha vida, mesma que ache que tem esse pensamento, não age como, tem ações de uma matriarca do século xix e coloca questões familiares no centro de sua vida, como tomada de seu destino, sua família parece da aristocracia russa, a onde fui me meter meu deus?

Saio do carro, com aquela vestimenta clássica minha, camisa de botão azul e uma bermuda verde clara, também de linho, tudo isso com a mente latejando uma só frase: i need to live. Foi isso, meus olhos fuzilavam quem passava por aquelas ruas e de repente, não mais que de repente, encontrei, calmo, sozinho e devolvendo olhares fuzilantes em minha pessoas, continuei, mas chegou um amigo dele horrível e roubou a nossa briga por um momento, ele? Era belíssimo, provavelmente 1.75, bigode mustache, magro, mas forte, cabelo liso, preto e curto até de certo modo, usava roupas maravilhosas, um beat em essência, um nariz romano, estreito e largo.

Trocas de olhares novamente e fodase, fui até a ele: Salve, come va? Io sono Fausto. Penso de forma imediata, burro do caralho, mas ouve a sorte de uma resposta:

- Piacere, Salvatore, bene e come va?

- Bene, devo dirtelo: sei il più bello di questa città, una bellezza assurda, quasi da sogno .

- Che bello! Ti andrebbe di venire con noi a bere qualcosa? Anche tu sei slanciato, e adoro quei baffi tuoi.

Óbvio que aceitei de forma imediata, achava que era um italiano, pois parecia deus em minha mente falando, converse com ele em italiano, ele é, fale fale e fodase ou era apenas minha vontade em falar italiano, sorte? Sim, ele é professor de italiano, brasileiro, pois quem teria o jogo de aceitar um aleatório de repente.

Chegamos, caríssimo o bar, mas i need to live, bancado pela família nesse momento, mas esse dinheiro será muy bem gasto hoje, desculpe-me minha querida mãe, mas a partir da primeira golada que demos naquela cachaça de 50 anos, foi desbunde total. Me defino como um cara escroto, a depender da companhia, da bebida em meu sangue e da substância que está em minha mente, me defino como escroto e fomos escrotos, falávamos de tudo, ele era igual a mim, um apaixonado por poesia, literatura, combinamos de ler 120 dias em Sodoma, um queer da melhor qualidade, lá pela décima dose gritávamos o soneto do olho do cu de Rimbaud, aquela gente rica que estava presente naquele bar, com medo de nós, mas nós tínhamos medo de nada, alucinados pelo álcool e daquele início de noite que encontrei ele, paramos na rua da casa dele.

- Espere: Vem em minha mente alguma coisa, necessito te dizer.

De repente, veio uma visão no fim da madrugada, já no quase amanhecer, quando o céu ardia em tons de cobre e cinza, os anjos de Sodoma surgiram escalando um monte que parecia tocar o infinito. Suas asas, destruídas pelo fogo, abanavam o ar pesado da tarde, espalhando calor e sombras. Eles semeavam prodígios, garantindo que a criação não perdesse seu ritmo de harpas, enquanto lambiam as feridas silenciosas dos mortos, dos suplicantes, dos suicidas e dos jovens apagados cedo demais. Cresciam com o fogo dentro de si, cuspindo medusas cegas de suas bocas, e desgrenhados, violentos, aniquilavam mercadores, roubavam o sono das virgens e criavam palavras turbulentas. No meio do caos, inventavam a loucura e o arrependimento de Deus, deixando a terra inteira reverberando com a presença de seres que eram ao mesmo tempo destruição e prodígio.

- Nós somos esses anjos de Sodoma, por isso que nós somos esses, sem medo de nada, sem medo de amar.

Um beijo maravilhoso, um beijo lento, mas ao mesmo tempo desesperado pois precisávamos amar, enlouquecer e digo, desbunde total, criou-se uma paixão, uma loucura em meu coração, não amo aquela pessoa que está provavelmente naquela cama, morrendo diante de toda sua ignorância, amo aquele que está a plena ás 6hrs da manhã, aberto fumando um cigarro e olha pra mim e diz:

Questa è la zona percorsa dai annegati
Questa è la velocità massima di chi si immerge
qui i melograni romani non cresceranno più
& due aquile di nebbia bagnando sandali
adolescenti sull’erba di primavera scrivono
la parola remember
il dolce Antinoo con il suo arco portando
cuori maturi nella faretra della fessura-essenza
della storia
i semafori del tempo accendono il loro segnale
verde sopra la sua
lunga chioma
questo dolce ragazzo
ruppe il cuore dell’imperatore
l’Impero adorando un dio adolescente annegato nel Nilo
senza aspettare che arrivasse la Mattina egizia
Adriano pianse il resto della sua
vita nella villa a sud di Roma
le pareti si crepavano nei pomeriggi
lasciando entrare i ricordi
ci fu un tempo nelle montagne della
Bitinia quando le battute di caccia si prolungavano
fino all’ora dell’amore
il vino Falerno aderendo agli stomaci
mentre gli sguardi si
incrociavano sul cinghiale arrostito e circondato
di frutti
questo amore costruì il suo impero nella
memoria & le squame del
mio cervello cadono al contatto del suo dito i poeti latini udirono provarono comprenderono questo tesoro affondato nelle budella del tempo resta il vento d’estate nei sentieri dove essi hanno camminato.

    Respondo a ele, sou uma alucinação na ponta de seus olhos. 

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